Em sua delação premiada, o ex-diretor de Energia da Andrade Gutierrez
Flávio Barra afirmou que Jucá indicou como a propina deveria ser repassada
Por Da redação
O senador Romero
Jucá (PMDB-RR) já foi citado ao menos três vezes em delações da Lava Jato
(VEJA.com/VEJA/VEJA)
A Ibatiba
Assessoria, Consultoria e Intermediação de Negócios, citada em delação de um
ex-executivo da Andrade Gutierrez como empresa utilizada para repassar propina
ao senador Romero Jucá (PMDB-RR), recebeu 30 milhões de reais de empreiteiras
investigadas na Operação Lava Jato. De acordo com o Ministério Público Federal,
os repasses foram feitos pela própria Andrade, Mendes Júnior e OAS de 2010 a 2012. Em
sua delação premiada homologada em abril deste ano, o ex-diretor de Energia da
Andrade Gutierrez Flávio Barra afirmou que Jucá indicou como a propina deveria
ser repassada.
Alvo de
três inquéritos relacionados à Lava Jato, o senador peemedebista foi um dos
principais articuladores políticos do presidente em exercício Michel Temer. Ele deixou o cargo de ministro do Planejamento em
maio, após divulgação de conversa
gravada com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Na conversa, o senador sugere um pacto para deter o avanço das investigações da
operação.
Em
depoimento que cita Jucá, o ex-executivo da Andrade Gutierrez disse aos
procuradores de Curitiba que a Ibatiba operava como uma das empresas de fachada
utilizadas para escoar propina paga pela empreiteira em razão da construção da
Usina Angra 3, no Rio. O montante movimentado nas contas da Ibatiba foi
identificado após a Procuradoria da República solicitar a quebra de sigilo de
um grupo de empresas apontadas como de fachada e ligadas à Mendes Júnior.
No
pedido, os procuradores que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato em
Curitiba apontam que, “não obstante os vultosos recebimentos, a Ibatiba, no período
de 2010 e 2012, não declarou possuir qualquer funcionário e não efetuou
qualquer pagamento a contribuintes individuais, sejam pró-labore ou autônomos,
conforme se verifica a partir do exame de suas Guias de Recolhimento do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)”. Os procuradores consideram que essa é
uma evidência de que a empresa foi usada para repassar propina.
Sociedade — A Ibatiba tem como sócios
o empresário José Augusto Ferreira dos Santos e seus filhos, Fabio Augusto e
Felipe Guimarães. Santos é mais conhecido por ter sido um dos acionistas do
Banco BVA, alvo de intervenção e posterior liquidação judicial pelo Banco
Central.
Em um de
seus depoimentos aos investigadores, o ex-executivo da Andrade Gutierrez
afirmou que Jucá pediu para que a empreiteira procurasse Santos “para
viabilizar o pagamento da propina”. Em um primeiro momento, o banqueiro sugeriu
que a construtora fizesse um investimento no BVA e, “do rendimento, seria
retirado o dinheiro para o pagamento das vantagens indevidas”.
A
operação, no entanto, foi negada pela empreiteira. Foi então que Santos indicou
a Ibatiba para celebrar contratos fictícios, segundo relato de Barra. “É
manifestamente improvável que a Ibatiba efetivamente tenha prestado os serviços
pelos quais foi contratada pelas empreiteiras Mendes Júnior, Andrade Gutierrez
e OAS, que motivaram transferências de milhões de reais”, afirma o Ministério
Público Federal no trecho do relatório em que trata dos pagamentos à empresa.
Citações
— Atual
presidente em exercício do PMDB, Jucá já foi citado em outras delações
premiadas na Operação Lava Jato. Ele foi apontado por executivos da Camargo
Corrêa e pelo ex-presidente da Transpetro como um dos parlamentares que
recebiam parte da propina destinada ao PMDB por obras da Petrobras e por
contratos no setor elétrico. O peemedebista ainda foi apontado pelo ex-executivo
do grupo Hypermarcas Nelson Mello como um dos
beneficiários de propina de cerca de 30 milhões de reais enviada a senadores do
PMDB por meio do lobista Milton Lyra. Em outra operação, a Zelotes, o senador é
alvo de investigação sobre suposta venda de medida provisória.
Banco
BVA — Na
Lava Jato, o Banco BVA já foi citado na 21.ª fase da operação, a Passe Livre,
que levou à prisão o pecuarista e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, José Carlos Bumlai. No despacho em que autorizou a detenção provisória,
o juiz federal Sérgio Moro destacou que o pecuarista “recebeu empréstimos
vultosos do Banco BVA meses antes da intervenção por este sofrida da parte do
Banco Central”.
“Embora
os créditos não estejam esclarecidos, foi possível identificar pelo menos um
empréstimo tomado por José Carlos Bumlai do Banco BVA no valor de 3.817.000
reais em 25 de julho de 2012”, registrou Moro. O BVA aparece também na delação
premiada do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.
Segundo
ele, “entre 2009 e 2010”, houve uma ordem do então ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão (PMDB-MA), para atender o Banco BVA na participação da Petros,
fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Ainda de acordo com Cerveró,
José Ferreira dos Santos era amigo de Lobão. O delator relatou que o negócio
foi feito e, alguns anos depois, o banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro
investido.
Defesas
— O
criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa os
ex-ministros Romero Jucá e Edison Lobão, disse que as afirmações dos delatores
são “falsas”. Segundo o criminalista, Jucá “jamais teve intimidade” com José
Augusto Ferreira dos Santos, da Ibatiba. Já Lobão, segundo o advogado, “não
tinha amizade” com o empresário. O criminalista Marcelo Leonardo, que defende a
Mendes Júnior, disse que não tem informação sobre negócio da empreiteira com a
Ibatiba.
A
Hypermarcas, na época em que a delação de Nelson Mello foi divulgada, disse que
o ex-funcionário autorizou despesas por iniciativa própria. O Estado procurou a
defesa de Santos, mas não obteve resposta. A defesa da OAS não quis comentar. A
Andrade Gutierrez tem afirmado que colabora com a Justiça.
(Com
Estadão Conteúdo)
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